A oração a Tiradentes é feita como forma de homenagear Joaquim José, líder da Inconfidência Mineira. Ele lutou contra a exploração do Brasil por parte da Coroa Portuguesa, e foi o único envolvido na conspiração a ser condenado à morte. Saiba mais sobre a história e como fazer uma oração a Tiradentes.
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Quem é Tiradentes?
Joaquim José, o Tiradentes, foi um dos participantes ativos da Inconfidência Mineira. Foi o único envolvido a ser condenado à morte, todos os outros conspiradores foram perdoados pela Coroa Portuguesa.
Tiradentes nasceu no ano de 1746, na Capitania de Minas Gerais. A razão por trás do seu apelido é que, pela morte prematura dos seus pais, ele teve que trabalhar em diversos tipos de serviços, inclusive como dentista.
Trabalhou também na mineração, mas alcançou sua estabilidade como alferes nos quadros da cavalaria imperial. Tiradentes era um republicano convicto, adepto às ideias do Iluminismo.
Por que Tiradentes foi condenado?
O julgamento de Tiradentes e outras pessoas envolvidas na Inconfidência Mineira durou cerca de três anos, período em que muitos dos participantes negaram envolvimento, mas não Tiradentes.
Foi determinada em 1792 a execução de dez pessoas, grupo em que Tiradentes estava incluído. Nove dos envolvidos foram perdoados e expulsos do Brasil por intermédio da Rainha D. Maria I, mas Tiradentes recebeu sentença de morte.
Há duas possibilidades para o fato de apenas Tiradentes ter sido executado. A primeira é que Tiradentes não era influente na Coroa, por não pertencer à elite mineradora. A segunda possibilidade é de Tiradentes ter sido considerado perigoso, por nunca ter negado seu envolvimento na conspiração durante o interrogatório.
Assim, em 1792, Tiradentes foi enforcado, esquartejado e teve seu corpo distribuído pela rua. Sua cabeça foi colocada em uma estaca na praça central, como aviso para futuras rebeliões.
Oração a Tiradentes
Há duas orações a Tiradentes que podem ser feitas. A primeira foi escrita por um padre e publicada durante a ditadura militar, nos anos 70. Confira abaixo.
Meu pobre Tiradentes, que imbecil!
Uma pátria sonhaste, livre, forte,
e acabaste na forca. O teu perfil
tão belo e puro, teu gigante porte
não foi feito pra terra do Brasil;
mísera terra desde o sul ao norte,
terra de bandoleiros e ladrões,
de velhacos, covardes e histriões…
Meu Tiradentes, quanto nojo, quanto,
entra-me n’alma e o coração me enjoa,
quando vejo aclamando-te por santo
uma turma de hipócritas à toa…
Põem-te em pedestal granítico, entanto
a fé que tu pregaste abandonou-a,
trocando por uns sórdidos vinténs
a chama do ideal que tu entreténs…
O ínclito dragão, simples que tu és!
julgas que é nobre estertorar num laço,
estrebuchando da cabeça aos pés –
macabra dança que envergonha o espaço –
pra que depois uns sujos lhagalés,
escória da nação, fezes, bagaço
do povo, venham insultar tua glória
dizendo ovacionar tua memória.
Meu santo alferes, que estultície a tua!
Inda acreditas em patriotismo?
O cadafalso deixa, vem à rua:
verás o tétrico, o imenso abismo
de lodo e podridão onde flutua,
como estandarte porco do cinismo,
um pedaço auriverde da bandeira
que já abençoou a plaga brasileira…
Meu puro Tiradentes, o sarcasmo
cruel enxovalhou-te nome e fama.
Mais que da morte no tremendo espasmo,
sofre tua alma ao chafurdar na lama
de opróbrios e baldões, que só o orgasmo
dos teus algozes sádicos reclama…
Mas te conforta a oração do monge
e a pátria livre que tu vês ao longe…
Pátria livre? Ilusão! Engano atroz!
Hoje, seus membros fortes encadeia
a sina dos escravos. Chora a sós,
e grita e impreca. Alucinada alteia
em desespero a sólida voz:
responde o soluçar da patuléia…
Os grandes, o Governo, os ‘patriotas’
cospem na cara dos plebeus idiotas…
A pátria escrava! escravizou-a a gula
insaciável, a feroz cobiça
de tubarão, a que o governo açula,
tentando-o com os restos da carniça,
que na estrada deixou essa matula
de políticos vís, que vão à missa
da deusa Pátria, de manhã e, logo,
a pátria esquecem ou lhe deitam fogo…
Pátria que amaste e que infeliz, eu vejo
vendida ao nobre rico e ao burguês,
vendida no atacado e no varejo,
a todo e qualquer tipo de freguês,
por gente sem escrúpulos, sem pejo,
com pago à vista ou em prestações por mês…
Pátria em que o dinheiro e o suborno e as trutas
fazem reinar até as prostitutas…
Pátria em que da justiça a virgindade,
ao poluir-se em fétido bordel
de traições ao Direito e à verdade
negando a luz, afunda no marnel,
sem que ninguém de seu revés se apiade!…
Anjo de Deus, comprado por Lusbel,
ouve no charco sonorosas palmas,
que pedem bis à podridão das almas…
Pátria, à qual serviu o imortal Caxias,
e que o exército jura idolatrar,
pétreo gigante de Gonçalves Dias –
‘fronte nas nuvens, os pés sobre o mar’ –
é hoje imolada em nebras orgias,
atrás de um balcão, erguido em altar…
Repasto de abutres, lobos, chacais,
ai! morre esperando os seus generais…
Pátria sim? Ora, a pátria! que me importa
um nome que inventaram tão sonoro,
se anda a fome a rondar a minha porta
e há goteiras na choça em que demoro,
se o sol me queima e, frio, o vento corta,
se pra viver a caridade imploro?
Às favas uma pátria que é madrasta,
onde o ter co’o ter demais contrasta!
Pátria sim? Ora, a Pátria! Quanto ganha
quem serve a Pátria, ou vai morrer por ela?
Pátria é a adega, é a taça de champanha,
é na mesa caviar, serra da estrela,
Reais aos milhões, Paris, Espanha,
bela mulher com – para entontecê-la –
música, vinhos, carros, jóias, praia…
E que ao redor o mundo inteiro caia!
Meu Tiradentes mártir, hoje em dia,
neste século vinte e um progressista
não há, nem pode haver filosofia
que à lógica do estômago resista.
Heroísmo é excrescência, é anomalia,
sem sentido no credo epicurista…
Desce da forca, vem, banca o safado:
Serás eleito governador ou deputado!
A segunda oração a Tiradentes é uma prece. Confira abaixo.
José Joaquim da Silva Xavier, irmão, camarada do mesmo ideal autonomista e libertário, eu te cumprimento pela passagem do dia 21 de abril.
“O autoritarismo me caça
e me cassa essa esfola
contribuinte perfeito
ao fisco, que me controla”.
Liberdade, dignidade, eis tudo o que tu querias Tiradentes, para o teu povo das Minas Gerais, mas o trogloditismo centralizador não só te esfolou e te calou, mas te enforcou e te esquartejou.
A autodeterminação do povo mineiro estava na tua cabeça, irmão, tal na minha está a do Sul.
José distinto, Joaquim estrela, Silva da esperança, Xavier camarada do povo: Libertas quae será tamen!
Os nossos inimigos são os mesmos, meu amigo. Teu algoz te considerou indigno da pátria, ao não aceitares a súbita subida de impostos de 20% para 25% taxados aos teus conterrâneos mineiros. Pois, amigo velho, as “derramas” de nossos dias são os escorchantes 40%.
É. A independência se fazia necessária para o bem do povo mineiro, assim como pensou o Frei Caneca para os Nordestinos, assim como Zumbi dos Palmares e o Antônio Netto Farroupilha.
Hoje, José Joaquim da Silva Xavier, irmão, camarada, amigo de fé e de esperança, até Portugal já ergueu estátuas em tua honra, reconhecendo teu valor, tua dignidade, teu espírito independentista…
E agora, mais de dois séculos depois de tua morte, eu te invoco para que derrames sobre minha cabeça a tua lição de vida, ainda antes que nossas riquezas sejam todas carreadas para os Palácios blanditosos do poder central. Os sulistas rogam tua presença, com o amor que tens pela autonomia de cada povo, de cada nação, para juntos erguermos a bandeira da Liberdade.
Se acaso, caro Tiradentes, meu abril for igual ao teu, não quero que reserves um cantinho aí no céu, só para mim, mas uma baita querência para que caibam todos os sulistas que morrem pela falta de um governo local autônomo.
Tiradentes, “o Sul é o meu País”. Esta é minha confidência, camarada inconfidente.
Será que meus inimigos também te renderão homenagens nesse dia 21 de abril, que é teu, mas que é também meu? Ou será que farão apenas finta? Ou será que nem lembrarão de ti, e de tua luta que eu luto?! – Se esquecerem de ti, eu te peço perdão pela ignorância deles.
José Joaquim da Silva Xavier – Tiradentes,
O Sul te saúda: Parabéns!!!
Tiradentes foi uma figura importante na luta pela liberdade do Brasil. A oração a Tiradentes pode ser feita em sua homenagem, ainda mais no feriado de 21 de abril.